O HIV é o vírus mais conhecido pela ciência, como resultado de grandes investimentos em pesquisa nas últimas décadas. Os inúmeros avanços conquistados modificaram muito, para melhor, a realidade dos portadores do vírus. Mas ainda há um longo caminho pela frente para que se possa controlar a epidemia de HIV-Aids.
A conclusão é de Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) que organizou, na semana passada, em São Paulo, o 6º Curso Avançado de Patogênese do HIV, no qual foram discutidos temas como tratamento, desenvolvimento de vacinas e epidemiologia do vírus.
O curso, que trouxe ao Brasil 30 dos principais especialistas em HIV de todo o mundo, integrou as atividades do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Investigação em Imunologia (INCT-iii). O Programa INCT foi lançado em dezembro de 2008 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com recursos obtidos em parceria com as fundações de amparo à pesquisa estaduais (FAPESP).
Três desafios
“Os avanços que tivemos desde a identificação da síndrome da Aids até hoje foram imensos. Mas ainda temos três grandes desafios pela frente. O primeiro é desenvolver uma vacina protetora. O segundo, compreender o mecanismo de degeneração e combater o envelhecimento dos portadores. O terceiro é descobrir como curar o indivíduo. Quando cumprirmos esses três objetivos, poderemos controlar ou eliminar a epidemia”, disse Kallás.
“O HIV é seguramente o vírus que mais conhecemos hoje em dia e para o qual nós mais tivemos investimentos em pesquisa. Mas é preciso dar continuidade a isso. O investimento é feito principalmente a longo prazo, na formação de recursos humanos, na disseminação de conhecimento e na capacitação de grupos de pesquisa”, destacou.
Vacinas experimentais
O aspecto principal do curso consistiu em estreitar o contato com os dados recentes das pesquisas realizadas pelos cientistas que apresentaram conferências.
“Tivemos a oportunidade de ver o que está na fronteira do conhecimento da patogenia do HIV tanto em relação à transmissão, como à prevenção, à resposta imune, à virologia e ao tratamento da infecção”, disse Kallás.
Todas essas áreas apresentaram avanços recentes de grande importância. “Na questão da prevenção, por exemplo, tivemos aqui a apresentação dos dados mais recentes relacionados à profilaxia da pré-exposição ao vírus. Na parte de imunologia, tivemos a identificação de novas subpopulações celulares envolvidas na resposta imune”, afirmou.
Degeneração
Já na área de reconhecimento dos aspectos biodegenerativos da infecção pelo HIV, o curso proporcionou discussões sobre senescência celular e marcadores de ativação. Na parte de virologia, foi apresentada a identificação de novos alvos para a ação antirretroviral e mecanismos de defesa celular.
“Tivemos também a discussão de novos dados de diversidade genética do HIV e novos dados de distribuição e transmissão de HIV no Brasil e no mundo. No que se refere ao tratamento, discutimos as novidades de desenvolvimento de novas drogas e debatemos situações especiais como a infecção aguda, ou pessoas que não respondem com a elevação de linfócitos TCD4.
Na área de vacinas, foram apresentados resultados recentes de diversos grupos com vacinas experimentais candidatas para combater a transmissão do HIV. “Um dos gargalos é que ainda não temos um marcador de proteção bem definido. Não conseguimos dizer com precisão, com base em um teste específico, se uma pessoa vai ficar protegida ou não. O vírus é muito diverso, muda muito de pessoa para pessoa e até mesmo dentro de um mesmo indivíduo ele possui uma grande diversidade. Uma vacina tem dificuldade de identificar e reconhecer essas variações virais”, disse.
Ainda segundo Kallás, é que não se sabe exatamente qual é a região do vírus e o tipo de resposta que consegue de fato gerar proteção. “Há várias tentativas, sabemos algumas dessas coisas, mas não sabemos ainda com certeza essa definição. Tivemos avanços que foram apresentados e que permitem entender alguns desses problemas, mas ainda temos um longo caminho pela frente”, disse.